terça-feira, junho 20, 2006

Companheiro é companheiro

Companheiro é companheiro
04:14 - domingo, 18/jun/2006
A SENSAÇÃO que tenho, em face do quadro político nacional, é de estar assistindo a uma grande farsa. O espetáculo das CPIs foi deprimente, embora tenha servido para nos mostrar personagens farsescos, travestidos de deputados e senadores da República, às vezes de uma indigência intelectual rara. Como se não bastasse o escândalo do mensalão, envolvendo altas figuras do governo e seu partido, além de parlamentares e dirigentes de outros partidos, estouraram os escândalos do combustível e, em seguida, o dos sanguessugas. Muita notícia, muito discurso, muita indignação mentirosa e, no fim, a impunidade. Tem-se a impressão de que o país foi tomado de assalto por várias quadrilhas que ocupam todo o aparelho do Estado. E, no centro do palco, está o presidente da República. Pelo cargo que ocupa, pelo peso de sua presença, é ele o protagonista da grande comédia. Depois de passar mais de 20 anos vociferando contra a política decrépita e corrupta que imperava no país, transformou-se subitamente no `Lulinha paz e amor`, sorridente, compreensivo, pai de todos: dos sem-terra, dos com-terra, dos com-banco... Esperto como poucos, joga em todas as posições ao mesmo tempo, finge que governa e discursa, discursa. Ao assumir o governo, o Brasil ainda não havia começado: ele criou tudo. Lembram-se do seu primeiro ministério, o melhor que já houve no mundo? Afora uns poucos ministros que não são do PT, todos os outros já rodaram. Imaginem se fosse o pior! Mas o que me faz voltar a falar de novo do Lula e do PT é esse fato inusitado que foi a invasão do prédio do Congresso Nacional pela turba do MLST. Com que fúria quebraram tudo o que encontraram pela frente! E com que propósito? Esta é a questão: por que fizeram aquilo? Vamos examinar: o chefe do MLST é Bruno Maranhão, membro da Executiva do PT e secretário nacional de Movimentos Populares do partido. Não se trata, portanto, de um militante qualquer. Ele também liderou, não faz muito tempo, a ocupação do Ministério da Fazenda e logo depois embolsou grana do governo e foi recebido em audiência por Lula. Numa visita do presidente a Pernambuco, Bruno Maranhão, como membro da Executiva petista, lá estava ao lado de seu líder. Então, esse é o homem que projetou e realizou o ato de vandalismo no Congresso Nacional? Mas ele é alta figura do partido do governo e o responsável pelos movimentos sociais do PT. Como é possível? Terá feito isso por decisão própria, contra toda a orientação política do partido a cuja direção pertence? Custa crer. Não estou afirmando nada, mas, se todo mundo sabe quem é Bruno Maranhão e conhece o radicalismo do MLST, que ele dirige, só o PT e o Lula não sabem? Claro que sabem. E, então, por que o mantiveram como membro da direção do partido? O PT age sem contemplação quando se trata de se defender, e isso de longa data: vacilou, dançou. Muitas figuras ilustres foram expulsas por terem contrariado decisões da direção, já os envolvidos com o mensalão acabam de ser lançados candidatos pelo partido. Logo, se Bruno Maranhão foi mantido como dirigente, durante todos esses anos, é que suas ações não contrariavam a orientação do partido; na verdade, de algum modo, serviam a ele. Se não me engano, foi Tarso Genro quem disse que a oposição só não pediu o impeachment de Lula por temer a reação dos movimentos sociais. Essa afirmação sugere que esses movimentos são uma arma que os petistas exibem para intimidar os adversários e impedir decisões legais que ameacem o governo? Não é que tudo isso faça parte de um plano, mas configura um partido eclético que se vale, oportunistamente, do radicalismo e da confusão ideológica. Sempre foram muitas as tendências divergentes dentro do PT, e Lula sempre fez o possível para mantê-las juntas, ainda que em conflito, sendo ele o fator de unidade. Como resultante lógica destes dados e fatos, talvez se tenha uma resposta para aquela pergunta que formulei acima: o que pretendia o MLST com a invasão do Congresso Nacional? Não seria talvez intimidá-lo? Trata-se apenas de uma hipótese, mas não absurda, se se leva em conta que, com o fim do mensalão, tornou-se muito difícil para o governo ganhar votações no parlamento. Para todos os efeitos, Lula não manda no MLST, apenas o financia e o deixa agir. O objetivo é mostrar que os movimentos sociais só não acabam com essa democracia de fachada porque Lula a garante. Como Bruno Maranhão pisou na bola, o PT faz de conta que o puniu, pois, como se sabe, companheiro é sempre companheiro. Texto Anterior: Próximo Texto:
Veja esta notícia na origem, clique aqui.Fonte: Folha de São Paulo - Redação

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RENAN CALHEIROS........... Ladrão

NOTA: A letra da música de fundo deste Blog é de autoria de Tony Bellotto / Charles Gavin / Paulo Miklos.